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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Lago dos peixes ...




Lentamente me dirigi à janela, cedinho, ouvindo o canto do galo. Ah! ... esse galo  não imagina o quanto me faz bem ouvi-lo no fim de todas as madrugadas. De repente, com o olhar no horizonte, viajei em pensamento, fisicamente no corpo, espiritualmente distante, indo para um tempo que não voltará nunca mais. Detesto saudosismo, pensava comigo mesma. Mas fiquei inoperante revendo aquele lago só meu onde passava a manhã pescando, indiferente aos perigos que me cercavam. Nossa mente possui dois arquivos: um chamado "decepções" e outro chamado "saudades". É nesse último onde estou com direito a imagem colorida e a sons que só um bom arquivo guarda. Sou sensível a aromas - o do café, vai para a eternidade e a sons, a música rara do galo, me conduz a cidadezinhas a qual passei, quem sabe, a melhor fase da minha vida. Agora, em pensamentos, estou em Porto Murtinho fronteira com o Brasil e o Paraguai, residindo numa vila militar. Lá, eu era acordada pontualmente às cinco da manhã pelo cantar do galo e pelo som da corneta de um soldado solitário que entoava a melodia. E assim, naquele local onde Judas perdeu as botas, eu vivia. Certa vez, vários soldados foram convocados para retirar terra para construção de um pavilhão, fizeram o trabalho e uns seis meses depois, a cidade sofreu uma inundação. As famílias foram deslocadas para quarenta quilômetros distantes da cidade inundada, sem nenhuma estrutura que nos protegessem. Foram seis meses onde ficamos expostos aos perigos da selva e  a nossa segurança vinha da fé em Deus. Quando as águas desceram, nós também  voltamos. Passado o susto, fui passear pela mata de cerrado, cedinho e sempre sozinha. Depois de andar uns dois quilômetros, encontrei uma lagoa e vi vários cardumes de peixes. Aquele era o mesmo local onde os soldados haviam retirados a terra anteriormente. A partir da descoberta, comprei material de pescaria baratos e toda manhã passava lá. Sempre eu voltava com curimatãs, pacus, aracus e principalmente, piranhas douradas. As piranhas chegavam a saltar em cardumes. Lá na fronteira, a maioria dos homens bebem e no inverno, o caldo de cabeça de piranha faz a festa. Este era o meu passatempo preferido, até que um dia, ao chegar no local, encontrei perto da pedra onde eu costumava pescar, um enorme couro de cobra. Sim, a cobra foi trocar de pele ali e eu só de ver o tamanho da pele esticada, tomei um susto, corri para casa e nunca mais retornei. Fiquei pensando: de quantos perigos o Senhor já me livrou ?



Scarlet Wind

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