Ano passado, tive um aluno chamado Edson: menino franzino, pequeno para idade, mulato, andava de cabeça raspada e era muito bagunceiro, exatamente durante as explicações das aulas. Certa vez, chamei a atenção dele:
- Senhor Edson, venha ao quadro resolver esta questão.
Ele foi correndo e era uma questão do qual eu havia acabado de explicar o assunto e ele estava na maior algazarra com os outros no momento da explicação. Pois sim, ele foi lá e respondeu tudo e ainda se saiu com essa: "eu escuto com os ouvidos, professora".
Caso recebesse um sete numa prova, chegava a mim para discutir o motivo daquela nota que para ele, era nota muito baixa. Um dia, uma professora, não suportando as bagunças do Edson, solicitou a presença da mãe e Edson só poderia entrar na escola com a mesma.
Depois de ouvir atentamente, a mãe passou a agredi-lo ali mesmo, chegando ao ponto de esfregar o rosto do garoto no chão e depois, levantando-o disse alto:
- Eu já matei um e pra matar outro é daqui pra ali. Se chegar outro telefonem da escola, o próximo é tu...( linguagem dela).
Ficamos estarrecidas com a atitude da mulher, entretanto, descobrimos que se tratava de uma ex detenta em liberdade condicional. A partir desse fato, ninguém mais da escola teve coragem de fazer queixa contra o Edson.
No meio do ano passado, ele chegou meio jururu para o meu lado dizendo:
- Estou triste porque a família do meu pai, que mora em Goiás, vai mandar a passagem para eu ir morar com ele. Eu não queria ir porque gosto muito da escola.
Intimamente também fiquei triste, porém pensando na situação dele, respondi: "talvez seja melhor pra você, Edson, só peço que continue estudando, pois isso vai ser muito bom para o teu futuro".
Ele assentiu com a cabeça e voltou ao lugar dele. O grande problema do Edson é que era muito apegado na mãe e eu sabia disso. Viviam em condições precárias, porém, por ele, jamais abriria mão da companhia dela.
E chegou o dia da partida, o dia da última frequência na escola, eu estava com o coração apertadinho, entretanto, não demonstrei. Quando termina o último tempo, sou sempre a última a sair e ocorreu desse jeito no dia em que Edson faria a viagem à noite.
Assim, todos já haviam descido quando peguei minhas coisas e saí. Ao passar pelo portão, lá estava ele me olhando com aqueles olhos grandes...Corri para o abraço e desejei tudo de bom a ele, beijei a cabeça cheia de cicatrizes e nos despedimos.
Hoje me lembrei do Edson com saudades. E fiquei pensando no incontável número de Edsons inteligentes que existem e que se perdem nas drogas por falta de uma estrutura familiar e até mesmo por não encontrarem uma base de apoio em nenhum lugar.
Então cheguei à conclusão de que como educadores temos a obrigação ética, moral e humana de tentarmos ajudar esses adolescentes que tiveram a infelicidade de nascer à margem da sociedade e por isso, vivem sem motivos para sonharem com uma vida melhor. Eu procuro fazer a minha parte. Boa noite.
Ele foi correndo e era uma questão do qual eu havia acabado de explicar o assunto e ele estava na maior algazarra com os outros no momento da explicação. Pois sim, ele foi lá e respondeu tudo e ainda se saiu com essa: "eu escuto com os ouvidos, professora".
Caso recebesse um sete numa prova, chegava a mim para discutir o motivo daquela nota que para ele, era nota muito baixa. Um dia, uma professora, não suportando as bagunças do Edson, solicitou a presença da mãe e Edson só poderia entrar na escola com a mesma.
Depois de ouvir atentamente, a mãe passou a agredi-lo ali mesmo, chegando ao ponto de esfregar o rosto do garoto no chão e depois, levantando-o disse alto:
- Eu já matei um e pra matar outro é daqui pra ali. Se chegar outro telefonem da escola, o próximo é tu...( linguagem dela).
Ficamos estarrecidas com a atitude da mulher, entretanto, descobrimos que se tratava de uma ex detenta em liberdade condicional. A partir desse fato, ninguém mais da escola teve coragem de fazer queixa contra o Edson.
No meio do ano passado, ele chegou meio jururu para o meu lado dizendo:
- Estou triste porque a família do meu pai, que mora em Goiás, vai mandar a passagem para eu ir morar com ele. Eu não queria ir porque gosto muito da escola.
Intimamente também fiquei triste, porém pensando na situação dele, respondi: "talvez seja melhor pra você, Edson, só peço que continue estudando, pois isso vai ser muito bom para o teu futuro".
Ele assentiu com a cabeça e voltou ao lugar dele. O grande problema do Edson é que era muito apegado na mãe e eu sabia disso. Viviam em condições precárias, porém, por ele, jamais abriria mão da companhia dela.
E chegou o dia da partida, o dia da última frequência na escola, eu estava com o coração apertadinho, entretanto, não demonstrei. Quando termina o último tempo, sou sempre a última a sair e ocorreu desse jeito no dia em que Edson faria a viagem à noite.
Assim, todos já haviam descido quando peguei minhas coisas e saí. Ao passar pelo portão, lá estava ele me olhando com aqueles olhos grandes...Corri para o abraço e desejei tudo de bom a ele, beijei a cabeça cheia de cicatrizes e nos despedimos.
Hoje me lembrei do Edson com saudades. E fiquei pensando no incontável número de Edsons inteligentes que existem e que se perdem nas drogas por falta de uma estrutura familiar e até mesmo por não encontrarem uma base de apoio em nenhum lugar.
Então cheguei à conclusão de que como educadores temos a obrigação ética, moral e humana de tentarmos ajudar esses adolescentes que tiveram a infelicidade de nascer à margem da sociedade e por isso, vivem sem motivos para sonharem com uma vida melhor. Eu procuro fazer a minha parte. Boa noite.