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sábado, 13 de julho de 2013

Filosofando com Camões



Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades  

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

Lindo soneto filosófico de Camões  onde retrata o conflito do homem angustiado com o seu tempo e com as mudanças que presenciava na própria natureza e principalmente nas pessoas. 

Observamos na primeira estrofe o assunto a ser desenvolvido no poema: tudo muda, o ser, os sentimentos, o próprio jeito de ser das pessoas. 

Quantas vezes conhecemos pessoas tão carinhosas que com o passar do tempo mudam radicalmente? Essa mudança já era pronunciada pelo filósofo pré - socrático Heráclito,
de Éfeso. Para ele, nada permanecia estático,tudo muda constantemente.

Navegando na poesia, já na segunda estrofe, percebemos a tristeza do eu lírico e o seu pessimismo diante da vida, bem como a ausência da esperança, ao perceber que o mal gera mágoas que se fixam nas lembranças, prevalecendo sobre o bem, porém a alegria proveniente do bem resulta em saudades melancólicas.

No primeiro terceto faz uma analogia com as mudanças que também ocorrem na natureza e no próprio "eu" do poeta. Parece que a vida é uma longa monotia imersa em desilusão e agonia.

Por fim, no último terceto, Camões deixa transparecer o conformismo existente na vida. É como se não adiantassse querer lutar contra o que já está estabelecido em forte alicerce porque tudo na vida parece já estar predestinado a essa alteração constante de mudança.

Temos que entender que a vida de Camões foi muito difícil como é difícil a todo poeta, no entanto, a de Camões foi dramática. 

Daí o pessimismo de sua obra, pois muitos poetas refletem na poesia o seu estado de espírito. Lindo dia a todos.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sobre Insatisfação

Certa vez, meu pai me disse que a insatisfação é o estado normal do ser humano. Lembro-me de um vizinho cujo sonho era ganhar uma bicicleta e cada natal que chegava, mais ansioso  ficava. 

Foi justamente quando não mais esperava, no dia do aniversário, que ganhou a tão sonhada bicicleta.

O garoto vivia satisfeito pedalando, cuidando da bicicleta, lavando-a mantendo-a sempre limpinha. Além disso, sentia ciúme da magrela.

Dava gosto vê-lo satisfeito e feliz. Passaram uns seis meses e a bicicleta começou a não receber tanta atenção; ele a mantinha na área da frente de casa e eu sempre ouvia a mãe reclamando: 

"não deixe a bicicleta cheia de lama, vá lavá-la, pois vai sujar a varanda".

E lá se ia o moleque meio a contragosto. Agora o desejo dele era outro e a bicicleta tão sonhada ficou de escanteio. 

Esse é o estado normal do ser humano, o grande problema é quando essa insatisfação diz respeito a pessoas.

Sim, existem indivíduos que não conseguem viver uma relação plena por muito tempo com uma pessoa só,  preferem ir mudando de par sem nunca se satisfazerem e isso é péssimo para quem se envolve com gente desse tipo. 

Péssimo porque darão péssimos maridos, péssimas esposas. Quem ama verdadeiramente não sente necessidade de outras pessoas visto que a marca do amor é a fidelidade.

Por isso, para não sofrer, é bom ficarmos atentas, atentos, ao comportamento de certas pessoas que se aproximam da gente  cuja intenção é a mesma da formiga preguiçosa: só querem passar uma estação para depois dar no pé sem se preocuparem com o sofrimento deixado para trás. 

Um bom sinal de alerta vem do povo, afinal a fama de tal criatura é conhecida por muitos. Bom fim de semana e muita paz nos corações.

domingo, 7 de julho de 2013

Superstições - aves agourentas

Já perto do amanhecer deste domingo, tomei um banho, passei um perfume de flores, liguei o ar, depois o ventilador e me esparramei na cama. 

O perfume das flores inundou o quarto de uma fragrância muita agradável. Serenamente adormeci. 

Mais tarde, acordei, fui à janela, o dia estava nublado e prometia chuva, porém não choveu, o restante do dia foi de muito calor com falta de água e energia. 

Como ia dizendo, ao olhar a janela, notei que a mangueira está repleta de flores e num dos galhos, um negro anualimentava-se de florezinhas da mangueira.

Em questão de segundos, cheguei na minha infância e parecia ver os moleques com suas baladeiras, atirando pedrinhas para que esse pássaro sumisse do local.  

Segundo as crenças onde esse pássaro pairava trazia notícias de morte. Os meninos nunca atiravam para matar porque então a maldição seria maior.

Outro pássaro temido era a Rasga Mortalha. Se houvesse alguém doente e esse pássaro aparecesse na cerca ou no telhado e começasse a piar, a tristeza se instalava na casa do doente.

A visita da Rasga Mortalha trazia consigo um mal estar muito grande, bem pior que a do Anu. Certa vez, estávamos com um tio doente e no fim de tarde, a Rasga Mortalha pousou exatamente na janela do quarto dele, perto das dezoito horas. 

Coincidência ou não, no outro dia exatamente no fim de tarde, meu tio se foi.


Fatos como esse eram comuns na minha infância e nós, crianças, tínhamos verdadeiro pavor desses pássaros. 

A Rasga Mortalha nada mais é que uma coruja branca e grande, porém vista pelo povo ribeirinho como anunciadora de morte.

Ainda hoje, minha mãe acredita nessas coisas. O anu que vi ao acordar, fez-me lembrar dessas pequenas histórias vivenciadas de perto. 

Não sei explicar o porquê da coincidência de tais mortes, mas quando olhei aquele anu, na mangueira, deu-me a sensação de que meu domingo não seria bom, orei baixinho, mesmo assim, este domingo não foi fácil para mim.

Graças a Deus, não tive notícias ruins, entretando, ao longo do dia, senti angústia, uma inquietação que não é normal. 

Passei o dia atravessando a ponte chamada Tristeza, felizmente com a chegada da noite, ela partiu. 

Bom início de semana, sem passarinhos agourentos pousando em nossas mentes. 

Meu abraço fraterno a todos.
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