Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüinea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
Raimundo Correa, autor deste poema é um dos poetas representante do estilo literário Parnasianismo. Seus temas, como de todo poeta parnasiano, voltam-se para a estrutura dos sonetos na composição do poema, na admiração pela natureza e objetos, bem como no rigor da métrica nos versos. Ele era extremamente pessimista, devido a sonhos que jamais se realizaram. No poema acima, o eu lírico faz uma analogia entre as pombas e os adolescentes cuja fase da idade é marcada pelos sonhos. Na primeira e segunda estrofe, o eu lírico retrata a alegria da rotina das pombas onde elas saem alegres ao amanhecer e voltam em bandos aos pombais, identicamente a adolescentes, quando saem para passear em grupos com os amigos. No entanto, essa fase passa e os sonhos adolescentes também, apenas as pombas permanecem com a mesma rotina. Com isso, no último terceto fica explícito o fato de que a
vida é efêmera e que a passagem do tempo é veloz, não há volta, principalmente em se tratando de adolescência, idade dos sonhos a qual idealizamos tanto e no decorrer da vida, pouco conseguimos realizar.