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sábado, 29 de março de 2014

ANÁLISE DO POEMA: NÃO DIGAS NADA, FERNANDO PESSOA.


Não digas nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
de sentir-se e de  ver ...
Não digas nada
deixa esquecer.

Talvez que amanhã
em outra paisagem
digas que foi vã
toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada ...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.




Poema dramático ortônimo de Fernando Pessoa. Ortônimo significa que foi assinado pelo próprio autor com seu nome real, não fruto da imaginação. Assim o poema traz consigo ima carga pesada de dramaticidade que revela talvez uma despedida, um rompimento de uma relação amorosa. Nesse caso, o tema principal é o silêncio explícito na primeira estrofe, pois o enamorado sente que está perdendo a amada e prefere o silêncio a ouvi-la dizer a verdade dura: o adeus. Claro está que o eu lírico dirige essa mensagem a uma pessoa que não é identificada. Desta forma, ele prefere, diante diante da despedida, ouvir apenas a voz do silêncio porque a verdade dita é dura demais. É por isso que  ele pede que o ela não diga nada porque: 


Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender — 
Não: não digas nada! 

É menos dolorido supor o que a pessoa vai dizer do que ouvir de imediato:

Supor o que dirá 
A tua boca velada 
É ouvi-lo já. 

Assim, ele prefere que se afastem e que com o tempo tudo caia no esquecimento:

Não digas nada 
Deixa esquecer...

Percebemos então o quanto ele amava essa pessoa, pois não tinha coragem de presenciar o rompimento desse amor. Depois, fica imaginando que no futuro, quando ela estiver vivenciando outra paisagem, "paisagem" aqui significando uma metáfora para outro relacionamento, ela vai pensar que, o que houve entre ambos, foi tudo em vão. Mas para ele, terá valido a pena o fato de ser do jeito que ele é, ao criar uma realidade sonhada:


Até onde quis
Ser quem me agrada ...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Apesar disso, enquanto ficaram juntos, ele foi feliz. Portanto, é melhor que ela não diga nada para não aumentar o sofrimento dele.

Segundo críticos literários, essa poesia se refere a sua última namorada, a  Ophélia Queiroz, sua última namorada.

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