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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Análise do conto Um Homem Célebre, de Machado de Assis


Um homem célebre é um dos dezesseis contos de Machado de Assis que faz parte da obra Várias Histórias, publicada em 1896. Como sempre, Machado vai nos apresentar o conflito interior vivenciado pelo personagem Pestana que queria muito ser uma celebridade de música à nível internacional de Mozart, Beethoven, Bach e Schumman. Para entender a história, veremos agora os aspectos principais da estrutura do conto:

FOCO NARRATIVO - é feito em terceira pessoa com a narração feita por um narrador onisciente, aquele que conhece a alma dos personagens:

"E aí voltavam-se as náuseas de si mesmo, o ódio a quem lhe pedia a nova polca da moda ..."

TEMPO CRONOLÓGICO -  1871 e 1885, entre a publicação da primeira polca de Pestana e  o falecimento dele:

"Pestana, quando compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um título poético, escolheu este: Pingos de Sol."

"Assim foram passando os anos, até 1885."

O conto não segue a ordem cronológica, isto é, não apresenta inicialmente a história de Pestana, mas sim o ano em que o personagem está no auge do sucesso, 1875:

"... cinco de novembro de 1875 ... "

Essa é uma característica própria do estilo machadiano.

ESPAÇO GEOGRÁFICO - A casa de Pestana é o ambiente que prepondera no conto:

"Em casa respirou. Casa velha, escada velha, um preto velho que o servia e que veio saber se ele queria cear."

PERSONAGEM PRINCIPAL - Pestana
PERSONAGENS SECUNDÁRIOS - a esposa tísica Maria e o editor das músicas que Pestana compunha.

ENREDO 

No conto Um homem célebre, Machado de Assis narra a história de Pestana, um homem de sucesso, conhecido pela população por ser compositor de músicas dançantes de ritmos ligeiros cujo estilo é chamado de polca, pois tem origem polonesa. Apesar do sucesso e do reconhecimento público, que odeia, o personagem vive a frustração de não conseguir compor músicas antigas no estilo dos grandes artistas clássicos. O que vamos ler, no decorrer do conto, é o Pestana queimando a pestana para conseguir realizar o sonho de compor uma música extraordinária no estilo clássico e essa será a obsessão dele ao longo do conto. Não há referência à família do personagem, apenas sabe-se que ele recebeu a educação de um padre que gostava tanto de músicas sacras quanto de músicas profanas. Os fofoqueiros da época afirmavam que o padre era o pai do nosso personagem. 

COMENTÁRIOS - De início, percebemos a presença da ironia machadiana ao relatar sobre a possível paternidade de Pestana, pois se ele fosse realmente o filho do padre, herdou o dom de compor músicas profanas, como a polca que é um ritmo fácil de compor. Quanto ao tema, refere-se à frustração e o desejo ambicioso de se tornar reconhecido como um compositor clássico, não de músicas cujo sucesso fosse efêmero. A marca registrada do conto é a busca da perfeição de Pestana e essa busca vai culminar sempre num drama pessoal porque nenhuma das tentativas que faz irá produzir o efeito esperado por ele visto que só consegue criar as polcas que tanto detesta. Outro detalhe a ser destacado é que Pestana fez todas as tentativas para realizar essa vontade de ser um compositor imortal, chegando a casar com a Maria, cantora e doente na esperança de conseguir inspiração para compor saindo do celibato. Mas não adiantou, vendo que não conseguia, chegou a tentar um suicídio o qual não foi levado a cabo por causa de um guarda que o impediu de se deitar à espera do trem que passaria logo. Por fim, chega a hora da morte e aqui temos mais um comentário irônico de Machado: "... expirou na madrugada seguinte, às quatro horas e cinco minutos, bem com os homens e mal consigo mesmo." E eu, que li o conto, fiquei pensando na ojeriza que Pestana sentia diante do dom que tinha para compor sucessos populares inocentes, enquanto atualmente a maioria dos sucessos do momento maculam a música popular brasileira

Boa noite. Beijos


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