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sábado, 25 de julho de 2015

Análise do conto: A causa secreta, de Machado de Assis


Considerado o mago da literatura realista cujas obras são fontes inesgotáveis de pesquisa em teses de mestrados e doutorados na área de Letras, tanto nacional quanto internacional, o carioca mulato Machado de Assis, profundo conhecedor da alma humana, viveu à frente de seu tempo, pois suas obras refletem bem o retrato de muitos indivíduos do mundo contemporâneo.

Hoje vamos analisar o conto A Causa Secreta  que foi escrito em 1885 no jornal  Gazeta de Notícias (RJ) e depois agrupado no livro de contos Várias Histórias (1896). Faremos a análise dos elementos da narrativa para depois tecermos os comentários.

TEMPO: cronológico e psicológico.
ESPAÇO: predomina a casa de Fortunato.
PERSONAGENS: 
Garcia - o médico
Fortunato - o capitalista
Maria Luísa - esposa de Fortunato.
FOCO NARRATIVO - 3a. pessoa com um narrador onisciente, aquele que conhece toda a história e os pensamentos dos personagens.

ENREDO

O conto inicia nos apresentando os três personagens: Fortunato, homem rico, 40 anos e bem sucedido, excessivamente calmo, Garcia, curioso em relação ao comportamento de Fortunato e Maria Luísa, a esposa bela, triste e tensa de Fortunato. Esta narrativa não foi feita na ordem direta com começo, meio e fim, pois logo no início do conto, percebemos o flashback que em literatura significa uma volta ao tempo. Então o conto começa apresentando os três personagens na casa de Fortunato, envoltos num silêncio pesaroso e é a partir daí que o narrador onisciente nos passa a relatar a história. Garcia conheceu Fortunato numa peça de teatro em que poucas pessoas assistiam. Depois volta a reencontrá-lo num incidente em que um homem é ferido na rua, ferimento feito com punhal. Nessa situação, Fortunato dedica total atenção ao homem, mas depois que ele sara, ao ir agradecer-lhe juntamente com Garcia, trata o homem com total indiferença e frieza. Passa-se um tempo até que Garcia e Fortunato passam a se encontrar no mesmo meio de transporte da época e assim, tornaram-se amigos. Um dia, Fortunato, que era solteiro, confidenciou ao amigo que havia casado e aproveitou para convidar Garcia para almoçar, num domingo, a fim de conhecer a bela Maria Luísa de 25 anos. Nesse encontro ocorre uma grande simpatia entre Garcia e Maria Luísa que se intensifica com o tempo se transformando em amor, amor de Garcia por ela, assim explicado pelo autor: "Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração". Outro detalhe importante é que nesse encontro, Fortunato convida Garcia para abrirem uma Clínica de Saúde em sociedade o que se concretiza e Fortunato vai demonstrar uma atenção especial para pacientes no pior estágio de sofrimento. E assim, muito interessado no sofrimento humano, Fortunato passou a estudar anatomia e fisiologia passando a rasgar e a envenenar cães e gatos. Como os gritos dos animais atordoavam os doentes da clínica, ele passou a fazer isso em casa e a mulher já não suportando o sofrimento dos animais pediu a Garcia que aconselhasse o marido a findar com esses estudos e experiências o que foi acatado por Fortunato. Com o passar do tempo, o médico começa a desconfiar que a bela esposa do amigo está doente, pois tossia e empalidecia cada vez mais, entretanto, ela sempre respondia que não tinha nada. O clímax, momento de maior tensão na narrativa,  ocorre no conto quando Fortunato é flagrado torturando um rato que, conforme ele explicaria depois, havia roído documentos seus. O massacre ao rato é presenciado por Garcia e Maria Luísa. O homem tortura o rato cortando com a tesoura uma pata, para depois passar o animal numa chama e assim ia alternando até cortar o focinho e encostar a carne na chama. E assim ia fazendo calmamente e cheio de prazer nos olhos, indiferente, parecia não ouvir nem ver o pedido de Garcia e da esposa para que parasse com aquilo e matasse o bicho de uma vez. Quando finalmente terminou, percebeu num sobressalto a presença da esposa e do amigo. É nesse momento que o narrador iniciou o conto. O desfecho vai ocorrer por ocasião da morte de Maria Luísa, acometida pela doença da época: a tuberculose. Apenas três pessoas estavam no velório: o esposo, Garcia e uma parenta da falecida. No decorrer da noite, Garcia  disse a Fortunato que fosse descansar, pois após isso, seria ele quem iria - visto que a parenta de Maria Luísa estava adormecida. Fortunato conseguiu dormir apenas por vinte minutos e devagarinho, para não acordar a parenta que dormia, chegou à porta da sala em que o corpo estava sendo velado e ficou assombrado com o que viu: Garcia beijou por duas vezes a face pálida da morta. O que se passou na mente de Fortunato foi um desfecho para um possível adultério, contudo, ele era isento de ciúme ou inveja, ele era apenas vaidoso. No entanto, quando Garcia caiu num choro compulsivo e as lágrimas de um amor calado jorraram em forma de lágrimas e soluços, Fortunato, do local em que se encontrava, saboreou tranquilo e deliciosamente o sofrimento longo do amigo.


COMENTÁRIOS

A pergunta que devemos fazer é esta: qual a causa que moveu  um homem capitalista a se interessar em investir numa clínica de saúde já que era um homem muito rico? A Causa Secreta é o título da obra que vai apresentar um homem frio, insensível, desprovido de sentimentos o que nos lembra em muito as características dos psicopatas. A crueldade é a marca da personalidade de Fortunato que sente prazer em ver o sofrimento - neste conto, tanto de animais quanto do ser humano, haja vista que no final do conto, ele se delicia com o sofrimento do amigo. Sabemos que na sociedade existem pessoas desse tipo e que são difíceis de identificarmos, mas segundo psiquiatras, os psicopatas apresentam dois comportamentos distintos em fases em que demonstram afeto e consideração aos outros e outra em que causam sofrimento às pessoas. Os sentimentos de afeto são aprendidos com a finalidade de manipular as pessoas porque psicopatas nascem sem sentimentos e qualquer ato bom feito por eles para beneficiar alguém é um ato hipócrita que esconde segundas intenções. E por falar em hipocrisia, lembremos que esta é outra característica apresentada nas obras realistas de Machado de Assis e nesse conto, a causa secreta a meu ver, nada mais é que nos apresentar Fortunato, um sujeito personagem psicopata. Psicopatia é uma doença de ordem psiquiatra que já estudei muito, por isso ao ler as entrelinhas desse conto, cheguei a esta conclusão e todo cuidado é pouco, porque tal doença existe tanto no universo real quanto no virtual - no virtual já fui vítima de um...rsrs. Beijos a todos.


  

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