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sábado, 18 de julho de 2015

Hão de chorar por ela os cinamomos ...

Cinamomo - árvore de pequeno porte e flores aromáticas


Vamos ler hoje esta poesia de Alphonsus de Guimaraens, poeta mineiro, o mesmo que escreveu o poema A Catedral, já interpretado aqui. As características da poesia simbolista são: a espiritualidade, a musicalidade obtida através das aliterações, assonâncias e outras figuras de linguagem, a melancolia, o subjetivismo e a identificação do eu lírico com a natureza - características da poesia romântica; a preocupação formal na poesia, que é uma característica dos poemas parnasianos e a busca pelo universo transcendental. Essas características demonstram uma insatisfação com o contexto histórico em que viveram cujas ideias estavam centradas no materialismo de Karl Marx e do positivismo de Auguste Comte ambos ateus.


Hão de chorar por ela os cinamomos

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: "- Ai, nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhe sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios de pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: "... Por que não vieram juntos?"


COMENTÁRIO:

Poema escrito em primeira pessoa em que o eu lírico demonstra sofrimento pela morte da amada. Observamos a figura de linguagem personificação ou prosopopeia nos seguintes versos: "Hão de chorar por ela os cinamomos." "As estrelas dirão: 'Ai, nada somos." A lua que lhe foi mãe carinhosa, / (...) há de envolvê-la/ Entre lírios de pétalas de rosa." Essas personificações vão significar que o eu lírico e a natureza sofrem juntos a morte da mulher amada, isso é observável no choro dos cinamomos, na fala das estrelas, no afeto da lua e até nas flores e nos laranjais que caem lembrando dela. No último terceto lemos o verso: "Os meus sonhos de amor serão defuntos..." significam que o eu lírico deixa expresso a vontade de ter morrido com a mulher amada e nos dois últimos versos a marca da espiritualidade ao citar os arcanjos que são anjos acima da hierarquia dos anjos. Esse poema foi escrito para a noiva do autor que faleceu muito jovem. Toda a poesia de Alphonsus é focada no sofrimento e quem sabe, retrato da vida que levou. 



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