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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Florbela - Uma Mulher à frente de seu Tempo


Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa contemporânea do movimento modernista, liderado por Fernando Pessoa e pelo movimento Orpheu. Entretanto, a poetisa não fez parte desse movimento, pois preferiu compor sonetos, forma fixa de poemas não mais utilizados pelos primeiros poetas modernistas que preferiram utilizar os versos brancos na poesia. Os temas de Florbela são o sofrimento, a solidão, o desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo imenso de encontrar felicidade. Ao lermos a biografia da poetisa, poderemos perceber que seus poemas refletiam muito o que se passava em seu interior. No entanto, Florbela pode ser considerada uma mulher ousada para o tempo em que viveu visto que na época, para uma mulher escrever um poema com o conteúdo acima, seria como se insurgisse contra todo moralismo da família burguesa. Com relação ao conteúdo do poema acima, percebemos que este soneto é uma exceção no tocante aos outros que escreveu  onde apregoava o amor como sendo eterno, único e verdadeiro. De fato, o assunto desenvolvido pressupõe a efemeridade do amor que, na visão do eu lírico, deveria ser vivido intensamente em  cada momento que aflorasse na vida. Isso nos faz recordar dos versos de Vinicius de Moraes em cujo poema Soneto de Fidelidade escreveu: "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure."Cabe ressaltar que Florbela suicidou-se aos 36 anos. Lindo fim de tarde a todos. O sol está exuberante por aqui.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Quem vai amarrarar o guizo no pescoço de Faro-Fino?

A Assembleia dos Ratos
 
-Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembléia para o estudo da questão.  Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos mios pelo telhado, fazendo sonetos à lua.
– Acho — disse um deles — que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa idéia.  O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra, um rato casmurro, que pediu a palavra e disse — Está tudo muito direito.  Mas quem vai amarrarar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral.  Um desculpou-se por não saber dar nó.  Outro, porque não era tolo.  Todos, porque não tinham coragem. E a assembléia dissolveu-se no meio de geral consternação.

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Atribui-se essa fábula a Monteiro Lobato. Estava aqui terminando a minha faxina na madrugada e lembrei-me dessa fábula que nos traz lições preciosas para nossa vida prática, às vezes, é preciso que apanhemos para aprendermos determinadas lições. Pois bem, logo que me formei fui trabalhar numa escola, repleta de idéias revolucionárias em relação à luta pela qualidade de ensino e meu alvo era a rede estadual de ensino. Em lá chegando, escolhi minha metodologia inovadora, totalmente fora da tradicional de ensino e como sempre, idéias inovadoras encontram resistência. O problema é que nessa escola os professores eram tradicionais e muitos estavam próximos da aposentadoria. Um dia resolveram fazer uma reunião, sem a presença de ninguém da direção da escola e me convidaram a participar. Afirmaram que não concordavam com certas atitudes da direção e que precisariam tratar desse assunto na próxima reunião com todos presentes. Conversa vai, conversa vem e de repente, um prof. explicou que era necessário que alguém começasse o assunto, assim os demais dariam prosseguimento, reforçando o que a primeira pessoa falou. Mas quem iniciaria o assunto na reunião? Todos se calaram, olharam para mim e eu ingenuamente disse: "bom, se é por falta de alguém que inicie o assunto, não tem problema, eu começo". Assim ficou combinado e todos saíram contentes. No dia da reunião com todos presentes, era chegada a vez de os professores se manifestarem; eu levantei a mão e comecei o assunto. Quando terminei, a diretora perguntou, se alguém mais queria complementar o que eu havia abordado. Para minha decepção nenhum abriu a boca, então a diretora se virou para mim e disse: "parece que só você, professora, está vendo esse tipo de problema, vamos prosseguir a reunião." Ahaaa, nussss ... eu fiquei com a cara de tacho, totalmente sem graça, no entanto, desde esse dia, por mais que me convidassem para "reuniões" particulares não mais aceitei. Pelo o que lemos na fábula acima, os ratos medrosos conseguiram livrar a própria pele, o que não aconteceu comigo por ser imatura e ter ido na corda dos outros. Assim aprendi uma lição: muitas vezes, quem está nos atiçando muito, na verdade, quer ver mesmo é a nossa desgraça, como apanho uma só vez, nunca mais entrei nessa. Linda madrugada a todos e lembrem-se sempre: nada de ir na corda dos outros, pois coração dos outros é terra que ninguém anda, ou seja, não temos como saber as verdadeiras intenções deles, na dúvida, melhor se esquivar.
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