Na quarta-feira de cinza, saí para dar uma voltinha no centro da cidade, olhar o rio Negro repleto de embarcações que partiriam para Belém ou para o interior do estado do Amazonas. De onde eu estava, podia ver gente que descia e subia a escadaria, uns chegavam outros iam; o tempo é de estiagem e por isso, o rio Negro está bem abaixo da barragem e por isso, a areia da praia já estava formada o que preocupa as autoridades visto que poderemos ter uma seca prolongada, levando em conta que a época por aqui seria de chuvas constantes e isso não está ocorrendo. Ao longe, do outro lado do rio, vi a exuberância da selva, lá, tudo está verdinho e as árvores altaneiras contrastam com a cor Coca-Cola do Negro. Depois de ficar ali, debruçada na muralha que separa o rio do Mercadão, fui passear no interior do mercado. Há praticamente de tudo nesse local, e na verdade, Mercadão é o apelido do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, construído todo em art nouveau e inaugurado em 1883. Gosto de ficar passeando e olhando as artes feitas manualmente, às vezes compro algum trabalho que me chamou muito a atenção especialmente os feitos em madeira. Depois, fui tomar um suco, ao ar livre e fiquei pensando na vida, quando se aproximou um homem humilde aparentando uns cinquenta e poucos anos, carregando um saco com muitas mudas de palmeira asiática rabo de peixe. Ele saiu oferecendo e a dona da lanchonete começou a ironizar afirmando que as mudas eram de algum charco regional e não tinha nada de asiática. Então o homem começou a falar feito um biólogo, conhecedor de tudo o que é palmeira e isso me chamou muito a atenção. Como podia um homem tão simples ir nomeando palmeira por palmeira, até as que ornamentavam o mercadão, falando a origem de cada uma? E foi assim que ele completou o discurso: "dona, essa palmeira que vendo é original e no comércio de plantas, a senhora não vai encontrar por menos de oitenta reais a muda, eu estou vendendo a dez reais porque preciso pegar dois ônibus". Dito isso, eu fiz sinal e ele veio ao meu encontro, comprei uma muda e comecei a especular como ele sabia tanto sobre palmeiras. A conversa foi agradável e eu, pensando comigo mesma, confirmei o que sempre defendi: aprendemos a todo momento, seja com pessoas letradas, com crianças e também com pessoas que nunca tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, tal como foi o caso do homem citado. Abraços afetuosos a todos.
Arquivo do blog
-
▼
2016
(17)
- ► 10/02 - 10/09 (1)
- ► 09/11 - 09/18 (2)
- ► 09/04 - 09/11 (1)
- ► 08/21 - 08/28 (1)
- ► 08/07 - 08/14 (1)
- ► 06/12 - 06/19 (2)
- ► 05/01 - 05/08 (1)
- ► 04/17 - 04/24 (1)
- ► 03/20 - 03/27 (1)
- ► 03/13 - 03/20 (1)
- ► 02/14 - 02/21 (1)
- ▼ 02/07 - 02/14 (2)
- ► 01/24 - 01/31 (1)
- ► 01/17 - 01/24 (1)
-
►
2015
(44)
- ► 12/27 - 01/03 (2)
- ► 11/15 - 11/22 (1)
- ► 10/25 - 11/01 (1)
- ► 10/11 - 10/18 (1)
- ► 09/27 - 10/04 (1)
- ► 09/20 - 09/27 (2)
- ► 09/13 - 09/20 (1)
- ► 08/30 - 09/06 (1)
- ► 08/23 - 08/30 (2)
- ► 08/09 - 08/16 (1)
- ► 08/02 - 08/09 (4)
- ► 07/19 - 07/26 (2)
- ► 07/12 - 07/19 (1)
- ► 06/28 - 07/05 (1)
- ► 06/14 - 06/21 (1)
- ► 06/07 - 06/14 (4)
- ► 05/10 - 05/17 (3)
- ► 04/19 - 04/26 (1)
- ► 04/05 - 04/12 (2)
- ► 03/29 - 04/05 (1)
- ► 03/22 - 03/29 (2)
- ► 03/08 - 03/15 (1)
- ► 03/01 - 03/08 (2)
- ► 02/15 - 02/22 (2)
- ► 02/01 - 02/08 (2)
- ► 01/18 - 01/25 (1)
- ► 01/04 - 01/11 (1)
-
►
2014
(85)
- ► 12/28 - 01/04 (1)
- ► 12/21 - 12/28 (1)
- ► 12/14 - 12/21 (2)
- ► 12/07 - 12/14 (2)
- ► 11/30 - 12/07 (1)
- ► 11/23 - 11/30 (2)
- ► 11/16 - 11/23 (1)
- ► 11/02 - 11/09 (2)
- ► 10/19 - 10/26 (1)
- ► 10/12 - 10/19 (2)
- ► 10/05 - 10/12 (2)
- ► 09/21 - 09/28 (2)
- ► 09/14 - 09/21 (1)
- ► 09/07 - 09/14 (1)
- ► 08/31 - 09/07 (1)
- ► 08/17 - 08/24 (2)
- ► 08/10 - 08/17 (1)
- ► 08/03 - 08/10 (1)
- ► 07/27 - 08/03 (1)
- ► 07/20 - 07/27 (1)
- ► 07/13 - 07/20 (1)
- ► 07/06 - 07/13 (2)
- ► 06/29 - 07/06 (2)
- ► 06/22 - 06/29 (4)
- ► 06/15 - 06/22 (2)
- ► 06/08 - 06/15 (1)
- ► 06/01 - 06/08 (3)
- ► 05/25 - 06/01 (3)
- ► 05/18 - 05/25 (4)
- ► 05/11 - 05/18 (1)
- ► 05/04 - 05/11 (2)
- ► 04/27 - 05/04 (2)
- ► 04/20 - 04/27 (2)
- ► 04/13 - 04/20 (1)
- ► 04/06 - 04/13 (1)
- ► 03/30 - 04/06 (2)
- ► 03/23 - 03/30 (2)
- ► 03/16 - 03/23 (2)
- ► 03/09 - 03/16 (2)
- ► 03/02 - 03/09 (3)
- ► 02/23 - 03/02 (1)
- ► 02/16 - 02/23 (1)
- ► 02/09 - 02/16 (1)
- ► 02/02 - 02/09 (2)
- ► 01/26 - 02/02 (3)
- ► 01/19 - 01/26 (2)
- ► 01/12 - 01/19 (1)
- ► 01/05 - 01/12 (4)
-
►
2013
(158)
- ► 12/29 - 01/05 (3)
- ► 12/22 - 12/29 (3)
- ► 12/15 - 12/22 (3)
- ► 12/08 - 12/15 (3)
- ► 12/01 - 12/08 (4)
- ► 11/24 - 12/01 (3)
- ► 11/17 - 11/24 (3)
- ► 11/10 - 11/17 (3)
- ► 11/03 - 11/10 (4)
- ► 10/27 - 11/03 (2)
- ► 10/20 - 10/27 (2)
- ► 10/13 - 10/20 (3)
- ► 10/06 - 10/13 (2)
- ► 09/29 - 10/06 (2)
- ► 09/22 - 09/29 (3)
- ► 09/15 - 09/22 (2)
- ► 09/08 - 09/15 (2)
- ► 09/01 - 09/08 (3)
- ► 08/25 - 09/01 (3)
- ► 08/18 - 08/25 (2)
- ► 08/11 - 08/18 (2)
- ► 08/04 - 08/11 (3)
- ► 07/28 - 08/04 (1)
- ► 07/21 - 07/28 (3)
- ► 07/14 - 07/21 (4)
- ► 07/07 - 07/14 (3)
- ► 06/30 - 07/07 (3)
- ► 06/23 - 06/30 (2)
- ► 06/16 - 06/23 (4)
- ► 06/09 - 06/16 (2)
- ► 06/02 - 06/09 (4)
- ► 05/26 - 06/02 (3)
- ► 05/19 - 05/26 (4)
- ► 05/12 - 05/19 (4)
- ► 05/05 - 05/12 (2)
- ► 04/28 - 05/05 (3)
- ► 04/21 - 04/28 (2)
- ► 04/14 - 04/21 (2)
- ► 04/07 - 04/14 (2)
- ► 03/31 - 04/07 (5)
- ► 03/24 - 03/31 (3)
- ► 03/17 - 03/24 (3)
- ► 03/10 - 03/17 (2)
- ► 03/03 - 03/10 (4)
- ► 02/24 - 03/03 (4)
- ► 02/17 - 02/24 (5)
- ► 02/10 - 02/17 (6)
- ► 02/03 - 02/10 (4)
- ► 01/27 - 02/03 (2)
- ► 01/20 - 01/27 (4)
- ► 01/13 - 01/20 (4)
- ► 01/06 - 01/13 (4)
-
►
2012
(266)
- ► 12/30 - 01/06 (4)
- ► 12/23 - 12/30 (4)
- ► 12/16 - 12/23 (3)
- ► 12/09 - 12/16 (4)
- ► 12/02 - 12/09 (1)
- ► 11/25 - 12/02 (4)
- ► 11/18 - 11/25 (4)
- ► 11/11 - 11/18 (5)
- ► 11/04 - 11/11 (5)
- ► 10/28 - 11/04 (5)
- ► 10/21 - 10/28 (3)
- ► 10/14 - 10/21 (4)
- ► 10/07 - 10/14 (3)
- ► 09/30 - 10/07 (3)
- ► 09/23 - 09/30 (3)
- ► 09/16 - 09/23 (3)
- ► 09/09 - 09/16 (3)
- ► 09/02 - 09/09 (3)
- ► 08/26 - 09/02 (3)
- ► 08/19 - 08/26 (4)
- ► 08/12 - 08/19 (3)
- ► 08/05 - 08/12 (4)
- ► 07/29 - 08/05 (5)
- ► 07/22 - 07/29 (1)
- ► 07/15 - 07/22 (2)
- ► 07/08 - 07/15 (6)
- ► 07/01 - 07/08 (3)
- ► 06/24 - 07/01 (3)
- ► 06/17 - 06/24 (5)
- ► 06/10 - 06/17 (5)
- ► 06/03 - 06/10 (7)
- ► 05/27 - 06/03 (7)
- ► 05/20 - 05/27 (6)
- ► 05/13 - 05/20 (3)
- ► 05/06 - 05/13 (10)
- ► 04/29 - 05/06 (9)
- ► 04/22 - 04/29 (7)
- ► 04/15 - 04/22 (4)
- ► 04/08 - 04/15 (6)
- ► 04/01 - 04/08 (10)
- ► 03/25 - 04/01 (3)
- ► 03/18 - 03/25 (3)
- ► 03/11 - 03/18 (4)
- ► 03/04 - 03/11 (5)
- ► 02/26 - 03/04 (6)
- ► 02/19 - 02/26 (8)
- ► 02/12 - 02/19 (5)
- ► 02/05 - 02/12 (7)
- ► 01/29 - 02/05 (12)
- ► 01/22 - 01/29 (9)
- ► 01/15 - 01/22 (7)
- ► 01/08 - 01/15 (12)
- ► 01/01 - 01/08 (8)
-
►
2011
(495)
- ► 12/25 - 01/01 (6)
- ► 12/18 - 12/25 (11)
- ► 12/11 - 12/18 (8)
- ► 12/04 - 12/11 (7)
- ► 11/27 - 12/04 (8)
- ► 11/20 - 11/27 (3)
- ► 11/13 - 11/20 (7)
- ► 11/06 - 11/13 (8)
- ► 10/30 - 11/06 (11)
- ► 10/23 - 10/30 (9)
- ► 10/16 - 10/23 (13)
- ► 10/09 - 10/16 (11)
- ► 10/02 - 10/09 (11)
- ► 09/25 - 10/02 (18)
- ► 09/18 - 09/25 (20)
- ► 09/11 - 09/18 (14)
- ► 09/04 - 09/11 (26)
- ► 08/28 - 09/04 (21)
- ► 08/21 - 08/28 (3)
- ► 08/14 - 08/21 (7)
- ► 08/07 - 08/14 (5)
- ► 07/31 - 08/07 (7)
- ► 07/24 - 07/31 (2)
- ► 07/17 - 07/24 (7)
- ► 07/10 - 07/17 (9)
- ► 07/03 - 07/10 (11)
- ► 06/26 - 07/03 (9)
- ► 06/19 - 06/26 (14)
- ► 06/12 - 06/19 (15)
- ► 06/05 - 06/12 (20)
- ► 05/29 - 06/05 (19)
- ► 05/22 - 05/29 (16)
- ► 05/15 - 05/22 (20)
- ► 05/08 - 05/15 (12)
- ► 05/01 - 05/08 (6)
- ► 04/24 - 05/01 (15)
- ► 04/17 - 04/24 (15)
- ► 04/10 - 04/17 (17)
- ► 04/03 - 04/10 (15)
- ► 03/27 - 04/03 (17)
- ► 03/20 - 03/27 (13)
- ► 03/13 - 03/20 (9)
sábado, 13 de fevereiro de 2016
domingo, 7 de fevereiro de 2016
Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ - Análise do conto A Carteira, de Machado de Assis - Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ
"Não há ninguém mais fácil de enganar do que um homem honesto; muito crê quem nunca mente, e confia muito quem nunca engana."
(Baltazar Gracyán y Morales)
Narrador onisciente - sabe tudo sobre a história, demonstrando também, conhecimento sobre o que se passa na mente do personagem por meio da sondagem psicológica.
Personagens- Honório - Amélia, a esposa, Gustavo C.
Espaço físico - Rio de Janeiro.
Tempo - cronológico e psicológico. Os fatos ocorrem rapidamente e é psicológico porque o narrador vai descrevendo as angústias de Honório.
Enredo
O conto gira em torno do personagem Honório, que é advogado, não bem sucedido na profissão, ele tem 34 anos, casado com dona Amélia e tem uma filha de quatro anos. Em casa, sempre recebe a visita de um amigo, o Gustavo, também advogado. A situação financeira de Honório é péssima, visto que tem dívidas acumuladas devido a gastos que fazia com familiares e com a esposa que vivia entediada e se queixava da solidão a qual dizia sentir. Então foi justamente num dia em que saiu para procurar um agiota haja vista que tinha que pagar uma dívida no dia seguinte que encontrou a carteira a qual continha dinheiro suficiente para saldar os quatrocentos e tantos mil reis que devia. Essa era apenas uma das dívidas mais urgentes que precisava saldar. A partir desse fato, vamos conhecer as inquietações que povoam a mente de Honório em relação a devolver ou não a carteira que pertencia a Gustavo.
Comentários - adentrando na história:
Primeiramente, vamos analisar o nome do personagem principal, Honório, porque na literatura isso tem muita importância. Honório significa homem
honrado, aquele que possui boa reputação e de certa forma, tal nome condiz com o perfil de Honório que se vê numa situação de dilema moral ao encontrar a carteira do amigo. Por outro lado, podemos perceber que a sociedade de 1884 é a mesma da atualidade, sociedade materialista, com raras exceções, habitada por pessoas solitárias e vazias as quais valorizam a aparência, a reputação superficial e nisso presenciamos a hipocrisia, pois a traição, que sempre foi condenada, se concretiza a portas fechadas. Honório é um homem dedicado à família e embora estivesse passando por sérios problemas financeiros, foi honesto ao perceber que a carteira encontrada pertencia ao amigo, decide então devolvê-la sem entrar na privacidade dele, pois além do dinheiro, havia cartas e bilhetes dobrados. Assim, ao chegar em casa, encontrou o amigo e a esposa ambos um pouco preocupados. Logo que devolveu a carteira, Honório viu o olhar desconfiado de Gustavo e ficou ressentido com a atitude do amigo, pois pensou que tal desconfiança se devia à enorme quantia em dinheiro. Amargamente se retirou do local e foi ao toalete para se preparar para o jantar. Enquanto isso, Gustavo devolvia a Amélia um bilhetinho, bilhetinho de amor que ela rapidamente rasgou em pedaços miúdos. Percebemos aqui a sordidez dessa mulher parasita que preenchia as horas ociosas agindo perfidamente, enquanto o marido contraía dívidas para oferecer a ela conforto e felicidade. Notamos que o tal amigo, era amigo da onça e trabalhando no mesmo meio em que Honório trabalhava, certamente conhecia a situação financeira ruim do amigo, embora no conto, o narrador ressalte que esse personagem não comentava com ninguém a situação pela qual vivenciava. Amigo verdadeiro não trai e quando pode, ajuda, porém essa não era a intenção do falso Gustavo que possuía uma boa situação financeira. Por fim, nesse conto, observamos meio perplexos o desfecho como a vitória do mal sobre o bem, mas foi por pouco, muito pouco mesmo que a verdade não veio à tona. E como estamos hoje? O conto reflete a realidade predominante dos dias atuais onde a honestidade, a generosidade e a fidelidade são tesouros contidos em poucos, em contrapartida, a deslealdade, a falsidade, a hipocrisia e a falta de amor ao próximo reinam soberanas na mente de muitos.
Assinar:
Postagens (Atom)