Final do mês passado, Airton, um aluno de 17 anos que me auxilia muito, entrou na biblioteca à noite, muito triste. Eu estava muito ocupada porque chegaram muitos livros para eu colocar em exposição. Eu não havia percebido a tristeza dele, de tão ocupada que estava. Então ele se aproximou e disse: "misericórdia, teacher, quantos livros, vou ajudar."
Agradeci a Deus pela ajuda e sorri pelo modo como ele falava. Conversa vai, conversa vem, o tempo foi voando e logo terminamos a primeira parte do trabalho. Airton sempre desabafa seus problemas e quando nos sentamos finalmente, ele disse que precisava falar comigo porque achava que os colegas de classe estavam cometendo "Bullying" e queria saber minha opinião.
Ouvi com atenção. Ele estava sendo apelidado de "cara de ralo" e por causa disso, as colegas só se interessavam em sua amizade; ah, pensei: as malditas espinhas purulentas.
Respondi que isso é normal mas cabe ao professor conter esse tipo de provocação e falei a ele para procurar um tratamento que suavizasse a expressão do rosto dele. Ele me explicou que existe o medicamento Roacutan passado pelos dermatologistas mas o preço é alto e ele não teria como pagar o tratamento.Ele terminou dizendo que toda vez que se olha no espelho sente um ódio danado do que vê.
Realmente, o rosto do Airton estava com acnes horrorosas daquelas que têm pus e dá mesmo um aspecto feio à aparência. Então, comentei com ele sobre um remediozinho caseiro, usado pela minha família de geração a geração. Este remédio a princípio repugnante é eficaz, gratuito e não tem efeito colaterais.
Interessado no assunto, Airton disse que toparia usar, independente de ser repugnante ou não, o que ele queria, era se livrar das "maleditas acnes." Fiquei constrangida em falar o que era mas ensinei: Roacutan o quê? Que Roacutan que nada! falei a ele para, antes de dormir, colher a urina num copo descartável e passar com algodão no rosto. Deixar secar e ir dormir. Pela manhã, repetir a operação. Airton me olhou fundos nos olhos e rindo disse: sério, teacher?
Sim, respondi sorrindo também ... kkkkkkk ... e Airton voltou para sala de aula. Na correria, passaram-se três semanas, até Airton aparecer na biblioteca radiante! Rosto sequinho, limpinho, sem manchas. Ele segurou nas minhas mãos, me fitou como sempre e: kkkkkkkk ... Demos uma boa gargalhada. Ele emocionado me disse: prof. eu nunca mais vou lhe esquecer, olhe o resultado do "remédio natural".
Ontem à noite, eu estava novamente na biblioteca, estudando, quando lá se vem o Airton e pasmem: acompanhado, de braços dados com uma aluna novata. Havia batido o recreio e ele veio me apresentar a menina. Sorri e disse o meu típico e sincero: "oi, lindinha, tudo bem contigo? Fiquem à vontade."
Voltei para minha escrivaninha e retornei a estudar. Eles ficaram uns dez minutos, e logo retornaram à sala de aula. Na hora da saída, Airton se aproximou de mim, sozinho e perguntou o que achei da gatinha. Eu fui sincera: uma menina fofinha e linda. Perguntei pelas "outras" que ele paquerava.
Muito sério, Airton respondeu: passaram a dar em cima de mim, chegou a minha vez de esnobar.kkkkkkkkkkkk. Caimos na gargalhada juntos.
Airton está no terceiro ano, portanto, é o último ano dele na escola. Como ele diz: misericórdia, logo poderemos perder contato. Verdade, respondo meio entristecida mas consciente de que fiz e faço a minha parte. Ser prof. é isso: um pouco psicóloga, um pouco mãezona e muito ... ? A.M.I.G.A.