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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Não Chores, Mamãe!


Finalmente, após exatamente um mês, Bia saiu da reclusão a que se submeteu, andando vagarosamente, ainda sob efeito do medicamento que tomava constantemente para dormir. Devagarinho, ainda sentindo o efeito colateral do sonífero, como uma autônoma, chegou à cozinha, preparou um chá e se pôs na janela a se perguntar por que não conseguia adormecer para sempre. Há um mês e meio, ela era uma mulher feliz junto a seu amado, sua companhia inseparável. Moravam sozinhos numa região montanhosa e iam sempre à cidade para vender produtos que ela plantava, bem como doces em compotas, bolos e pães caseiros. Entretanto, toda a serenidade, a alegria de Bia ruiu a seus pés no mês que se passou; era o início das chuvas e o pequeno Bruno de cinco anos gostava de tomar banho de chuva, brincando, pulando, imaginando histórias lendárias, próprias de uma criancinha. Certa manhã, depois de brincar muito, Bruno almoçou e adormeceu, acordando no fim da tarde com febre e sua mãe foi medicando-o com os medicamentos que tinha em casa, porém a febre ia e voltava, deixando-a preocupada. Por esse motivo, no terceiro dia de febre, que se tornou constante, Bia levou a criança para consultar na cidade. O médico passou os exames os quais foram feitos no hospital e depois de o médico analisar os resultados, decidiu pela internação de Bruno, isso deixou Bia extremamente nervosa e preocupada. Após uma semana de internação, Bruno faleceu vítima de pneumonia, desta forma, os poucos amigos de Bia a consolaram por ocasião do velório e do enterro. Amparada pela amiga Telma, Bia permaneceu dez dias longe de casa e depois voltou ao lar, numa depressão profunda também por não saber o paradeiro do pai que era viajante e havia quase um ano que não dava notícias. Agora, ao refletir sobre o que aconteceu, lágrimas caíam de seus olhos, uma vez que não conseguia mais viver sem o filhinho. A tarde morria e a noite chegava, dessa vez, Bia não tomaria medicamentos para dormir, apenas ficaria ali, quietinha no seu quarto, esperando o sono chegar. Então tomou o chá e vagarosamente se dirigiu a seu quarto, pela primeira vez teve coragem de olhar a porta do quarto do filhinho, abriu-a e tudo estava exatamente igual: o guarda-roupa, a caminha arrumadinha com uma foto de ambos ao lado da cabeceira, a enorme caixa com seus brinquedos preferidos e outra cama de solteiro. Bia sentou-se ao chão e acariciando um ursinho de pelúcia soltou um grito que saía do âmago de seu ser, fazendo as lágrimas jorrarem sobre a sua face. Depois deitou-se na cama de solteiro, custando a pegar no sono, mas na madrugada adormeceu; sem o efeito do remédio para dormir sonhou com Bruninho, foi um sonho rápido que a marcou por toda vida. No sonho, a criança dizia a ela: "por favor, não chores, mamãe, eu estou muito bem, estou bem pertinho de ti, mas toda vez que tu choras, vejas como fico: todo molhado." E ela, no sonho o viu completamente molhado. Rapidamente Bia acordou, acendeu a luz e viu a caminha de Bruninho ensopada de água. Desde então, quando queria chorar, lembrava do sonho e se controlava. O marido retornou e ficou chocado com tudo o que aconteceu, tiveram outros filhos, mas de Bruninho, Bia jamais esqueceu como acontece com todas as mães que perdem seus filhos.

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