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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Toda a delicadeza Transcendental da Poesia Simbolista

"Angústia é um nó muito apertado bem no meio do seu sossego."
(Adriana Falcão)

Uma das escolas mais belas que estudei na faculdade foi o Simbolismo. Esse estilo literário começou quase no final do século XIX, com a publicação de Missais e Broquéis, de Cruz e Sousa. (1893)

Numa época em que o materialismo falava mais alto, tanto quanto hoje, os poetas simbolistas tocavam em temas que não agradavam a sociedade burguesa e as camadas cultas da corte do Segundo Reinado.

A escola literária na poesia de sucesso desse tempo  era o Parnasianismo cujos temas exaltavam a valorização de objetos, preocupados em apresentar poemas com temas frívolos bem ao gosto das idéias materialistas que estava em voga.

Desta forma, a poesia simbolista não agradou por tratar de temas  profundos os quais  permeiam a mente humana como a dor de existir e o fantasma da morte. 

Se a escola parnasiana exaltava a aparência, a simbolista, tocava na ferida, tratando de assuntos voltados para a essência, aquilo que existe no recôndito de nossa alma.

Para tanto, os poetas faziam uso do conhecimento intuitivo da realidade, explorando o universo visível, racional e objetivo da vida  onde a intuição e os sentidos humanos, visão, paladar, tato, audição e olfato foram utilizados para perceberem cores, perfumes e etc,   com o objetivo de resgatar a essência humana escondida sob o manto da realidade materialista e alienada.

Um dos temas diz respeito a morte. Esse tema foi também utilizado pelos poetas românticos que viam na morte uma evasão, ou seja, a fuga da realidade; já para os simbolistas a morte significava a libertação plena da alma.

Para nos deleitarmos na poesia, vou deixar um poema de Cruz e Sousa, não sobre a morte mas sim sobre o infinito que é o nosso próprio 'eu interior', um 'eu' que está à procura de si mesmo, ou de sua identidade ou ainda até mesmo de uma razão existencial que aplaque as nossas angústias de viver.


O Cavador do Infinito 
(Cruz e Sousa)

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.


Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.


E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...


Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias! 
_____

Sabemos que em determinado momento da vida, a angústia de viver vai nos acometer e infelizmente, tal qual o poeta, "continuaremos cavando" sem obtermos respostas claras a todas as nossas inquietações. 

Espero que tenham gostado da reflexão de hoje... Um beijo enorme e boa tarde a todos.

2 comentários:

  1. Olá Scarlet.


    quando eu ainda estava no ensino médio,o poeta que eu mais me identificava era ''Álvares de Azevedo'' rs

    como ele sempre fez apologia a própria morte e eu sempre fui melancólico acabava gostando dele rsrs.

    eu costumava dizer que queria morrer cedo rsrs.Acho que sempre tive depressão rs

    vou deixar aqui o poema que eu mais gostava na época.



    ''Se Eu Morresse Amanhã!''

    Se eu morresse amanhã, viria ao menos
    Fechar meus olhos minha triste irmã;
    Minha mãe de saudades morreria
    Se eu morresse amanhã!
    Quanta glória pressinto em meu futuro!
    Que aurora de porvir e que manhã!
    Eu perdera chorando essas coroas
    Se eu morresse amanhã!
    Que sol! que céu azul! que dove n'alva
    Acorda a natureza mais loucã!
    Não me batera tanto amor no peito
    Se eu morresse amanhã!
    Mas essa dor da vida que devora
    A ânsia de glória, o dolorido afã...
    A dor no peito emudecera ao menos
    Se eu morresse amanhã!


    ''Álvares de Azevedo''


    Um abraço Scarlet,tudo de bom pra você.




    Leonardo Carlos.

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  2. Oi, Leonardo. Na adolescência, eu era apaixonada pela escola Romântica. Mas como tive algumas decepções no amor, na faculdade me tornei fã do Machado de Assis, do estilo realista, pois ele apresentava em suas obras, a vida como ela é, sem ilusões.

    Porém, ser realista é tornar a vida dura demais e virei filósofa;..kkkkk, voltando-me mais para temas metafísicos. Daí escolhi o Simbolismo, apesar de não terem feito sucesso no Brasil e infelizmente os representantes terem morrido na miséria.

    Devemos lembrar que os representantes eram negros e a libertação dos escravos ocorreu alguns anos antes de eles se projetarem na Literatura. Em outras palavras, imagino o preconceito com que foram recebidos pela sociedade burguesa e monárquica da época. Beijos

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